sábado, 12 de dezembro de 2009

Gosto do frio.
Gosto das luzes.

Gosto das vozes
e dos chocolates.

Gosto dos abraços.
Gosto das minhas saudades.

No Natal
Gosta-se.

Amanhã volto a casa.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Gostamos de nos enganar
com previsões, planos e projectos
quando não sabemos.

Não sabemos.

Gostamos de nos adiar
com obrigações, desculpas e calendários
quando não sabemos.

Não sabemos.

Assobio para o ar.
O melhor quase
Sempre é responder
"Porque me apetece".

É que não sabemos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Passei pelos lugares que fizemos
Nossos.

(e sorri)

Ainda me lembro.
Ainda cá estamos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Há qualquer coisa de trágico
quando deixa cair

Os Dedos

sem esforço,
como se já soubesse.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

(cliché)

Encontra-me às 8
onde a areia é só minha
e tenho um quente morno

Na pele.
E dentro.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Descobri o pó
na caixa de cartão
e confessaram-se

(essas porcarias)

recados dobrados
bilhetes rasgados
letras que já não entendo

(essas porcarias)

na sua caixa de cartão.

Amanhã serão mais.

domingo, 26 de julho de 2009

O dia nunca começa antes do meio-dia.Muito sal e muita areia.Micra de vidros abertos a poluir serra adentro.Concertos e festivais.Caipirinha fresquinha.Gritar músicas foleiras que só duram até Setembro.Café no castelo.Enormes competições de ténis.Danças parvas.Tocar gaita-de-foles em canoas no rio Mondego.Touradinhas e pegas de caras.

Até à última gota, mas sem pressas, sempre patrocinados por uma bebida qualquer.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Nos cinco segundos da vida deles
não há sorrisos vitórias
não há televisão em directo
não há eurekas
não há mundo

Estão sozinhos e morrem.

domingo, 24 de maio de 2009

"Ninguém ao certo sabe onde fica Boabdul
mesmo que seja só miragem ou imagem de outra imagem
a leste a oeste a norte a sul
Boabdul é tua despedida e tua viagem
o teu sítio sagrado o teu país só teu
um ponto luminoso um pedaço de azul
algures no céu."

[Manuel Alegre, Boabdul, in Livro do Português Errante]


Hoje encontrei Boabdul deitada no parque.O azul.E o sol no parque.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

"We like to think we're fearless, eager to explore unknown lands and soak up new experiences, but the fact is, we're always terrified. Maybe the terror is part of the attraction. Some people go to horror movies. We cut things open. Dive into dark water.

And at the end of the day, isn't that what you'd rather hear about? If you've got one drink and one friend and 45 minutes. Slow rides make for boring stories. A little calamity. Now that's worth talking about."

[In Grey's Anatomy, Brave New World]


Ipod ligado a uma coluna no 2º andar.Limonada.Fomos para o telhado.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

É mais fácil fazer
poemas tristes cansados sofridos queixosos

Hoje
nem uma linha.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

blog?


Isto vai ser um despejo.De coisas que há muito tempo estão perdidas em gavetas, de coisas que vou apanhando por aí.Das minhas coisas.


Para já preciso de 5 minutinhos para ver como se mexe nisto.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

outro esforço - ainda o apanhamos!

Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, n'esses estreitos anos de vida, era da inutilidade do todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na terra — porque tudo se resolve, como já ensinara o sabio do Ecclesiastes, em desilusão e poeira.
— Se me dissessem que ali em baixo estava uma fortuna como a dos Rothschilds ou a coroa imperial de Carlos V, à minha espera, para serem minhas se eu para lá corresse, eu não apressava o passo... Não! Não saía d'este passinho lento, prudente, correcto, seguro, que é o unico que se deve ter na vida.
— Nem eu! acudiu Carlos com uma convicção decisiva.
E ambos retardaram o passo, descendo para a rampa de Santos, como se aquele fosse em verdade o caminho da vida, onde eles, certos de só encontrar ao fim desilusão e poeira, não devessem jamais avançar senão com lentidão e desdém. Já avistavam o Aterro, a sua longa fila de luzes.
[...]
— Espera! exclamou Ega. Lá vem um «americano», ainda o apanhamos.
— Ainda o apanhamos!
Os dois amigos lançaram o passo, largamente.
E Carlos, que arrojara o charuto, ia dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face:
— Que raiva ter esquecido o paiosinho! Emfim, acabou-se. Ao menos assentamos a teoria definitiva da existencia. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma...
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
— Nem para o amor, nem para a gloria, nem para o dinheiro, nem para o poder...
A lanterna vermelha do «americano», ao longe, no escuro, parára. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
— Ainda o apanhamos!
— Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou, e fugiu. Então, para apanhar o «americano», os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.
[In Os Maias, Eça de Queirós]